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Dica Literária: 4 autores francófonos para ler em 2024

Você já ouviu falar de francofonia? E da Francofonia? Sabemos que existem diferenças entre ambas as definições da palavra francophonie em francês, enquanto a com F maiúsculo abrange os falantes da língua francesa que pertencem a um país em que o francês tem o estatuto de língua oficial, a com f minúsculo, se refere a todos aqueles que usam o francês para se comunicar (nessa francofonia, nós falantes de francês no Brasil, nos incluímos!).

Para além dessas definições mais escolares e pedagógicas, temos aquela gente que vive e se expressa em francês. Faça parte da Francofonia ou da francofonia, expressões artísticas em língua francesa são ricas e diversas, pois fazem com que diferentes culturas se conectem e se descubram por e através da língua em comum que compartilham. Assim sendo, trago neste texto de hoje, 4 autores francófonos que utilizam o francês como meio de difusão de suas culturas, essas 4 leituras são altamente recomendadas para aqueles falantes (ou estudantes) do francês como também para aqueles que não dominam a língua, mas são amantes de um bom livro.


Primeiro livro da nossa lista:  Memórias de um porco-espinho (Mémoires de Porc-Épic, 2008), de Alain Mabanckou, que foi trabalhado atualmente no nosso clube do livro da escola. A história cativante das aventuras de um porco-espinho narradas pelo próprio a um baobab mostram um pouco como a cultura e as crenças do Congo (país de origem de Mabanckou) se relacionam com os animais e os espíritos; o porc-épic é quase como um animal existencialista que analisa toda a sua vida e suas ações, e que tem consciência do meio ao qual está inserido. Na cultura congolesa, cada humano possui um animal duplo, uns são seres que fazem o bem, outros são os chamados nuisibles (danosos). Nosso herói é o duplo nocivo de um homem assassino, que usa o seu duplo para cometer tais atos. Leitura obrigatória a todos os fãs de uma boa literatura contemporânea, com pitadas de ação e humor. Acabamos cativados pela vida do porco-espinho, além de refletirmos sobre modos distintos dos nossos de ver a vida. A tradução pro português está publicada pela Editora Malê.


Segunda história da lista: Adriana em todos os meus sonhos (Hadriana dans tous mes rêves, 1988), do haitiano René Depestre, simplesmente um dos melhores livros já lidos por essa humilde professora. A história acompanha a narração de um rapaz (Patrick) após a morte de uma jovem no dia de seu casamento. A jovem em questão era a moça mais popular da cidade e o jovem relembra todos os acontecimentos daquela ocasião. Publicado em 1988, o livro se passa nos meados do século 20, onde paisagem, costumes e mitos haitianos se misturam, tendo como principal atração a representação da figura dos zumbis e do voodoo haitiano, na segunda metade do livro. Podemos dividi-lo em dois momentos, o primeiro que conta os acontecimentos conforme a memória de Patrick, e o segundo em que a presença da zumbificação se mostra primordial para a história. Temos todos os elementos de uma cultura haitiana presente na memória do autor, que o influenciou da infância até a vida adulta.


Seguimos com o terceiro livro recomendado, e novamente de um autor haitiano, Jacques Roumain e Os senhores do Orvalho (Les gouverneurs de la rosée, 1944), que coloca em prática todo o seu marxismo em uma história envolvente e com reviravoltas. Visando um romance mais social, Roumain nos apresenta seu herói Manuel, que retorna de Cuba, onde trabalhou nas plantações de cana e tabaco e vê sua terra natal devastada pela exploração desenfreada da terra. Disputas locais separaram o povo local, que antes produzia em conjunto. Manuel resolve encontrar uma fonte de água para que a sua cidade volte a prosperar, mas rixas locais acabam causando problemas ao rapaz. A história foca bastante na exaltação do povo haitiano e de suas ancestralidades, bem como nos elementos culturais primordiais do povo, a religião (voodoo), os costumes, a alimentação. Tudo isso nos é apresentado com um pano de fundo visando o retorno à ancestralidade e uma crítica à modernidade. Leitura rápida e fácil de se fazer.


Leitura não fácil pela temática e crueza com que aborda a história é a do nosso quarto e último livro, da escritora ruandense Scholastique Mukasonga: A mulher de pés descalços (La femme aux pieds nus, 2008). O livro narra a vida da autora em Ruanda dos anos noventa, no auge do apartheid promovido pelos Hutus contra os Tutsis. Mukasonga, em tom autobiográfico, conta sua infância enquanto jovem tutsi e toda a repressão e violência que seu povo sofria enquanto minoria política. As memórias da jovem nos apresenta a rotina familiar, sua relação com sua mãe, os costumes do seu povo, bem como o entendimento de uma criança de toda situação de exclusão vivenciada. O livro termina no massacre de Ruanda, fato histórico de grande importância e repercussão mundial nos anos 90, em que milhares de tutsis foram assassinados por hutus, resultando também na morte da família da autora, que nunca conseguiu reencontrar os corpos dos familiares. Leitura não tão leve, mas muito bem narrada e altamente recomendada. Publicado no Brasil pela Editora Nós.




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